10/06/2014

Declaração do 10 de Junho (SPCL, 10/06/2014)


 
DECLARAÇÃO  DO  10  DE  JUNHO

DIA  DE  CAMÕES,  DE  PORTUGAL  E
DAS  COMUNIDADES  PORTUGUESAS

Celebra-se hoje o Dia dos Portugueses nas Comunidades espalhadas pelo mundo.
É de reconhecer, e louvar, a coragem daqueles que deixaram o seu país de origem em busca de melhores condições de vida em países estrangeiros, dos quais muitas vezes não conheciam língua nem costumes, e que mesmo, em condições pouco favoráveis e num meio estranho, foram capazes de sobreviver, trabalhar, criar os filhos, enfim, construir, num país novo, uma nova vida.
São estes portugueses, muitos ainda por nacionalidade, e outros já só por ligação afetiva, que merecem ser hoje homenageados, pela força e capacidade de adaptação demonstradas, e também pela sua dedicação ao país de origem, um país que, por mais distante que se encontre, não esquecem, sempre envidando esforços para manter vivas a Língua e Cultura Portuguesas.
Portugal é, infeliz e tradicionalmente, um país de emigração, facto que não pode ser origem de qualquer sentimento de orgulho, visto que só um país que não tem capacidade de oferecer aos seus cidadãos meios para ganhar a vida dignamente os força à emigração.
São já mais de 121 mil os portugueses que emigraram durante a crise da austeridade, ultrapassando, em 2012, um máximo histórico que só tinha sido alcançado em 1966, uma época caraterizada pelos horrores da ditadura, da guerra e da fome.
Fala-se agora de uma “nova diáspora”, à falta de melhor designação para reconhecer que, afinal, muitos portugueses já não têm condições para continuar a viver no seu país.
De novo se fala de quem parte e de quem fica, de novo surge a saudade e os receios de que o novo começo não corra bem.  
E também de novo se constata que Portugal não apoia devidamente os seus cidadãos no estrangeiro, com os serviços consulares a funcionar precariamente e reduzidos ao mínimo, e com os cursos de Língua e Cultura Portuguesas alvo de reduções anuais, conjuntamente com a aplicação da vergonhosa taxa de frequência, a “propina”, de caráter anticonstitucional e antidemocrático, que obriga os pais portugueses no estrangeiro a pagar para que os seus filhos possam frequentar os cursos de língua e cultura de origem, cursos esses cada vez em menor número e ostentando um decréscimo crescente da qualidade de ensino.
Este conjunto de tristes circunstâncias nada mais é que o amargo fruto das políticas economicistas e da falta de vocação e interesse do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, em manter viva a língua de herança no estrangeiro, o Português nas Comunidades, transformando-o em língua estrangeira, com fito em objetivos elitistas, servindo interesses políticos mal orientados e apoiando ações de caráter predominantemente carreirista, visando o futuro profissional de alguns, mas sem intenção de servir, minimamente, os interesses das comunidades portuguesas no estrangeiro.
O ensino da Língua e Cultura Portuguesas, nas pequenas localidades, onde era exatamente mais necessário devido ao isolamento em que os portugueses se encontram, está atualmente quase extinto, em consequência dos princípios de estrangulação progressiva preconizados pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, para quem só os locais com grandes concentrações de emigrantes parecem ter direito a atenção e reconhecimento, insistindo numa política mal direcionada e que terá como consequência gerações futuras de indivíduos de origem portuguesa, mas com passaporte estrangeiro, ignorantes das suas raízes e da sua herança linguística e cultural.
A força das Comunidades Portuguesas está nelas próprias, na sua determinação de não esquecer uma Pátria que, muitas vezes, as esquece.
Hoje, e sempre, a nossa homenagem a todas as portuguesas e portugueses no estrangeiro, radicados ou recém-chegados, sós ou com família, saudosos ou adaptados, cidadãos de uma nova pátria fora da Pátria, a pátria das Comunidades Portuguesas.


10 de junho de 2014
Nuremberga, Alemanha


Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares

Secretária-Geral do SPCL