DIA DE CAMÕES, DE PORTUGAL E
DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS
Celebra-se hoje o Dia dos Portugueses nas Comunidades espalhadas pelo
mundo.
É de reconhecer, e louvar, a coragem daqueles que deixaram o seu país de
origem em busca de melhores condições de vida em países estrangeiros, dos quais
muitas vezes não conheciam língua nem costumes, e que mesmo, em condições pouco
favoráveis e num meio estranho, foram capazes de sobreviver, trabalhar, criar
os filhos, enfim, construir, num país novo, uma nova vida.
São estes portugueses, muitos ainda por nacionalidade, e outros já só por
ligação afetiva, que merecem ser hoje homenageados, pela força e capacidade de
adaptação demonstradas, e também pela sua dedicação ao país de origem, um país
que, por mais distante que se encontre, não esquecem, sempre envidando esforços
para manter vivas a Língua e Cultura Portuguesas.
Portugal é, infeliz e tradicionalmente, um país de emigração, facto que não
pode ser origem de qualquer sentimento de orgulho, visto que só um país que não
tem capacidade de oferecer aos seus cidadãos meios para ganhar a vida
dignamente os força à emigração.
São já mais de 121 mil os portugueses que emigraram durante a crise da
austeridade, ultrapassando, em 2012, um máximo histórico que só tinha sido
alcançado em 1966, uma época caraterizada pelos horrores da ditadura, da guerra
e da fome.
Fala-se agora de uma “nova diáspora”, à falta de melhor designação para
reconhecer que, afinal, muitos portugueses já não têm condições para continuar
a viver no seu país.
De novo se fala de quem parte e de quem fica, de novo surge a saudade e os
receios de que o novo começo não corra bem.
E também de novo se constata que Portugal não apoia devidamente os seus
cidadãos no estrangeiro, com os serviços consulares a funcionar precariamente e
reduzidos ao mínimo, e com os cursos de Língua e Cultura Portuguesas alvo de
reduções anuais, conjuntamente com a aplicação da vergonhosa taxa de
frequência, a “propina”, de caráter anticonstitucional e antidemocrático, que
obriga os pais portugueses no estrangeiro a pagar para que os seus filhos
possam frequentar os cursos de língua e cultura de origem, cursos esses cada
vez em menor número e ostentando um decréscimo crescente da qualidade de
ensino.
Este conjunto de tristes circunstâncias nada mais é que o amargo fruto das
políticas economicistas e da falta de vocação e interesse do Camões, Instituto
da Cooperação e da Língua, em manter viva a língua de herança no estrangeiro, o
Português nas Comunidades, transformando-o em língua estrangeira, com fito em
objetivos elitistas, servindo interesses políticos mal orientados e apoiando
ações de caráter predominantemente carreirista, visando o futuro profissional
de alguns, mas sem intenção de servir, minimamente, os interesses das
comunidades portuguesas no estrangeiro.
O ensino da Língua e Cultura Portuguesas, nas pequenas localidades, onde
era exatamente mais necessário devido ao isolamento em que os portugueses se
encontram, está atualmente quase extinto, em consequência dos princípios de
estrangulação progressiva preconizados pela Secretaria de Estado das
Comunidades Portuguesas, para quem só os locais com grandes concentrações de
emigrantes parecem ter direito a atenção e reconhecimento, insistindo numa
política mal direcionada e que terá como consequência gerações futuras de
indivíduos de origem portuguesa, mas com passaporte estrangeiro, ignorantes das
suas raízes e da sua herança linguística e cultural.
A força das Comunidades Portuguesas está nelas próprias, na sua
determinação de não esquecer uma Pátria que, muitas vezes, as esquece.
Hoje, e sempre, a nossa homenagem a todas as portuguesas e portugueses no
estrangeiro, radicados ou recém-chegados, sós ou com família, saudosos ou
adaptados, cidadãos de uma nova pátria fora da Pátria, a pátria das Comunidades
Portuguesas.
10 de junho de 2014
Nuremberga, Alemanha
Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares
Secretária-Geral do SPCL