27/01/2013

A nova emigração portuguesa na Suíça (Manuel Beja) 25 Jan 2013


A nova emigração portuguesa na Suíça


O novo fluxo de emigração faz-nos recordar outras épocas, outros trilhos percorridos por centenas de milhares de portugueses, outros dramas vividos por tanta gente espalhada por esse mundo fora. Todos sabemos, opta-se pela emigração quando as perspectivas de vida nos são negadas, quando os nossos sonhos são destruídos e a miséria nos bate à porta. Vivemos num mundo diferente do existente nos finais dos anos sessenta do século passado, na época do “salto” para a França e a Alemanha. Hoje, circulamos livremente pela Europa e pelo Mundo, com os incentivos do Governo de Passos Coelho. Vai! Emigra! As oportunidades estão lá fora!

Percebe-se! A emigração volta a ser utilizada como estratégia na captação de divisas do exterior. Os resultados divulgados nos primeiros dias do ano, são evidentes: as remessas dos Emigrantes aumentaram 12,6 % nos dez primeiros meses de 2012, face ao período homólogo de 2011, contas feitas pelo Banco de Portugal. Por isso, perguntamos: não será este significativo aumento o reflexo das novas saídas? Por aquilo que nos é dado entender, acreditamos que sim!

As fileiras dos jovens sem perspectivas de vida, saídos das escolas, dos institutos, das universidades, aumentam assustadoramente. Milhares de portugueses sentem-se abandonados e sem futuro no seu país, perderam a esperança, entraram no desespero e na amargura e lutam, fora das fronteiras de Portugal, por um posto de trabalho. Alguns alcançam o sucesso, outros vêm a situação de vida agravada e, desiludidos, regressam à santa terra.

Na Europa, os novos emigrantes encontram pela frente mercados de trabalho saturados e de oportunidades cada vez mais reduzidas. As próprias legislações laborais existentes perderam o rigor do passado, por imposição de inúmeras orientações políticas que visam conduzir o mercado de trabalho, à desregulamentação, à sua total liberalização. Milhares de trabalhadores estão a receber salários abaixo do acordado pelas contratações colectivas locais. Arrecadam menos, trabalham mais e correm o perigo dos descontos nunca chegarem às instituições sociais. A degradação das condições de trabalho são, nos dias de hoje, uma dura realidade, dada a falta de uma rigorosa inspecção nos países de acolhimento. As agências de trabalho temporário, um dos apoios mais procurados pelos novos emigrantes, comportam-se como autênticas máfias. Os sindicatos denunciam esse procedimento e agem na defesa destes trabalhadores.

Voltámos às situações de exploração de portugueses no estrangeiro num sistema de modernos escravos. Casos existem onde não falta a descarada e a inaceitável intervenção de compatriotas colaboradores das agências, falsos empresários, empresários não cumpridores, vigaristas natos, alguns, outros menos, todo um estranho mundo a girar à volta desta gente que se esforça por trabalhar dignamente e obter um novo estatuto de vida.

Entre os recém-chegados à Suíça, apercebemo-nos dos mais variados perfis de pessoas. Jovens investigadores saídos das Universidades e Institutos superiores que, na impossibilidade de fazerem carreira em Portugal, acabam contratados por importantes Institutos de ciência e grandes empresas multinacionais. Num outro grupo de trabalhadores qualificados, estão os engenheiros, os técnicos da construção civil, médicos, dentistas, enfermeiros, quadros técnicos de desporto, terapeutas, e até jovens formados em economia.

Todavia, a maioria dos portugueses que se vai incorporando na comunidade residente, são os trabalhadores atirados para o desemprego que recorrem às famigeradas agências de trabalho temporário. Suplicam, em algumas situações, pelo ambicionado contrato de trabalho para a construção, hotelaria, jardinagem ou serviços de limpeza.

Como se tudo isto não bastasse, os antigos emigrantes, os pensionistas, regressam à Suíça para junto dos filhos. Em alguns casos, a residência é-lhes facultada pelas autoridades locais, dado o rendimento mensal ser compatível com o nível de vida local, mas nem todos têm a mesma sorte. O retorno ao antigo país de acolhimento deve-se, particularmente, a dois aspectos: ao deficiente e cada vez mais caro serviço de saúde em Portugal, e às exageradas taxas fiscais aplicadas pelas finanças sobre o valor das reformas de velhice pagas pela Suíça.

Perante um cenário sombrio e sem sonhos, a esperança encontra-se, algumas vezes, às portas das Comunidades Católicas, Associações Culturais e Desportivas, Sindicatos Suíços, instituições sociais locais e dos portugueses residentes, aqueles de coração mais aberto. Têm sido impecáveis na orientação, na informação e na ajuda concreta aos milhares de compatriotas recém-chegados. Sem estas instituições e o empenho da “velha” emigração, a vida destas pessoas seria um enorme pesadelo.

Menos brilhante tem sido a actividade dos serviços consulares, transformados em fábricas de produzirem papéis, com menos pessoal, mais dificuldades financeiras e desligados dos actuais problemas da comunidade. O mesmo acontece com o Secretário de Estado das Comunidades, José Cesário. Para este senhor, ser emigrante, tornou-se quase um pecado que terá de ser punido com uma taxa adequada. As suas regulares e dispendiosas viagens não passam de uma banalidade ociosa! Engoliu a cassete dos “cortes e das taxas” e desleixou-se da sua missão. 
Até nos apetece gritar: 
A emigração não é só economia, estúpido!”

Manuel Beja

Conselheiro das Comunidades Portuguesas na Suíça

25 de Janeiro de 2013

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