A nova emigração portuguesa na Suíça
O novo fluxo de emigração faz-nos
recordar outras épocas, outros trilhos percorridos por centenas de milhares de
portugueses, outros dramas vividos por tanta gente espalhada por esse mundo
fora. Todos sabemos, opta-se pela emigração quando as perspectivas de vida nos
são negadas, quando os nossos sonhos são destruídos e a miséria nos bate à
porta. Vivemos num mundo diferente do existente nos finais dos anos sessenta do
século passado, na época do “salto” para a França e a Alemanha. Hoje,
circulamos livremente pela Europa e pelo Mundo, com os incentivos do Governo de Passos Coelho. Vai!
Emigra! As oportunidades estão lá fora!
Percebe-se! A emigração volta a ser
utilizada como estratégia na captação de divisas do exterior. Os resultados
divulgados nos primeiros dias do ano, são evidentes: as remessas dos Emigrantes
aumentaram 12,6 % nos dez primeiros meses de 2012, face ao período homólogo de
2011, contas feitas pelo Banco de Portugal. Por isso, perguntamos: não será
este significativo aumento o reflexo das novas saídas? Por aquilo que nos é
dado entender, acreditamos que sim!
As fileiras dos jovens sem perspectivas de
vida, saídos das escolas, dos institutos, das universidades, aumentam assustadoramente.
Milhares de portugueses sentem-se abandonados e sem futuro no seu país, perderam
a esperança, entraram no desespero e na amargura e lutam, fora das fronteiras
de Portugal, por um posto de trabalho. Alguns alcançam o sucesso, outros vêm a situação
de vida agravada e, desiludidos, regressam à santa terra.
Na Europa, os novos emigrantes
encontram pela frente mercados de trabalho saturados e de oportunidades cada
vez mais reduzidas. As próprias legislações laborais existentes perderam o
rigor do passado, por imposição de inúmeras orientações políticas que visam
conduzir o mercado de trabalho, à desregulamentação, à sua total liberalização.
Milhares de trabalhadores estão a receber salários abaixo do acordado pelas
contratações colectivas locais. Arrecadam menos, trabalham mais e correm o
perigo dos descontos nunca chegarem às instituições sociais. A degradação das condições
de trabalho são, nos dias de hoje, uma dura realidade, dada a falta de uma
rigorosa inspecção nos países de acolhimento. As agências de trabalho
temporário, um dos apoios mais procurados pelos novos emigrantes, comportam-se
como autênticas máfias. Os sindicatos denunciam esse procedimento e agem na
defesa destes trabalhadores.
Voltámos às situações de exploração de
portugueses no estrangeiro num sistema de modernos escravos. Casos existem onde
não falta a descarada e a inaceitável intervenção de compatriotas colaboradores
das agências, falsos empresários, empresários não cumpridores, vigaristas natos,
alguns, outros menos, todo um estranho mundo a girar à volta desta gente que se
esforça por trabalhar dignamente e obter um novo estatuto de vida.
Entre os recém-chegados à Suíça,
apercebemo-nos dos mais variados perfis de pessoas. Jovens investigadores saídos
das Universidades e Institutos superiores que, na impossibilidade de fazerem
carreira em Portugal, acabam contratados por importantes Institutos de ciência
e grandes empresas multinacionais. Num outro grupo de trabalhadores
qualificados, estão os engenheiros, os técnicos da construção civil, médicos,
dentistas, enfermeiros, quadros técnicos de desporto, terapeutas, e até jovens
formados em economia.
Todavia, a maioria dos portugueses que
se vai incorporando na comunidade residente, são os trabalhadores atirados para
o desemprego que recorrem às famigeradas agências de trabalho temporário.
Suplicam, em algumas situações, pelo ambicionado contrato de trabalho para a
construção, hotelaria, jardinagem ou serviços de limpeza.
Como se tudo isto não bastasse, os
antigos emigrantes, os pensionistas, regressam à Suíça para junto dos filhos.
Em alguns casos, a residência é-lhes facultada pelas autoridades locais, dado o
rendimento mensal ser compatível com o nível de vida local, mas nem todos têm a
mesma sorte. O retorno ao antigo país de acolhimento deve-se, particularmente,
a dois aspectos: ao deficiente e cada vez mais caro serviço de saúde em
Portugal, e às exageradas taxas fiscais aplicadas pelas finanças sobre o valor das
reformas de velhice pagas pela Suíça.
Perante um cenário sombrio e sem
sonhos, a esperança encontra-se, algumas vezes, às portas das Comunidades Católicas,
Associações Culturais e Desportivas, Sindicatos Suíços, instituições sociais
locais e dos portugueses residentes, aqueles de coração mais aberto. Têm sido
impecáveis na orientação, na informação e na ajuda concreta aos milhares de
compatriotas recém-chegados. Sem estas instituições e o empenho da “velha”
emigração, a vida destas pessoas seria um enorme pesadelo.
Menos brilhante tem sido a actividade
dos serviços consulares, transformados em fábricas de produzirem papéis, com
menos pessoal, mais dificuldades financeiras e desligados dos actuais problemas
da comunidade. O mesmo acontece com o Secretário de Estado das Comunidades, José
Cesário. Para este senhor, ser emigrante, tornou-se quase um pecado que terá de
ser punido com uma taxa adequada. As suas regulares e dispendiosas viagens não
passam de uma banalidade ociosa! Engoliu a cassete dos “cortes e das taxas” e desleixou-se
da sua missão.
Até nos apetece gritar:
Manuel
Beja
Conselheiro
das Comunidades Portuguesas na Suíça
25 de Janeiro de 2013
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