13/03/2013

A propina e o fim oficial do EPE (SPCL, 11 de Março 2013)




SINDICATO DOS PROFESSORES NAS COMUNIDADES LUSÍADAS 

FIM OFICIAL DO
ENSINO PORTUGUÊS  NO ESTRANGEIRO
Termina o ensino gratuito –
É DIA DE PÔR LUTO PELO EPE


Com a publicação da Portaria n°102/2013, de 11 de março, foi decretado pelo CICL (Camões, Instituto da Cooperação e da Língua) e pela Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, o fim oficial do Ensino Português no Estrangeiro de caráter estatal e gratuito, destinado aos luso-descendentes, que agora só poderão continuar a frequentar os cursos de Língua e Cultura Portuguesas mediante pagamento de uma propina de 100 euros anuais.
 
Numa altura em que tantos cidadãos portugueses se veem obrigados a deixar o seu país, devido ao desemprego e carestia gerados por uma crise cujo fim não se consegue vislumbrar, numa altura em que os números da emigração já equiparam, ou até superam, os valores da mesma nos anos 60, época do grande fluxo migratório, decidiram a SECP e o CICL, contrariando o predisposto na Constituição, impor o pagamento de uma propina aos alunos dos cursos do Ensino Português no Estrangeiro (EPE), sistema que, desde o seu início, há cerca de 35 anos, sempre foi de caráter gratuito.

Numa altura em que a emigração de portugueses para países dentro e fora do espaço Europeu atingiu níveis que há poucos anos atrás seriam impensáveis, decretaram o CICL e a SECP a cobrança de uma vergonhosa propina aos pais dos alunos que frequentam os cursos de Língua e Cultura Portuguesas (LCP), cursos esses que até agora eram de caráter gratuito.

Esta medida, já de si inaceitável, não só devido ao seu caráter anticonstitucional, mas também  pela patente desfaçatez em requerer, aos cidadãos portugueses no estrangeiro, que continuam a enviar elevadas quantias para um país que ainda consideram como a sua pátria, pagamento pelas aulas de Português, que as Comunidades tanto prezam, é ainda agravada pela decisão injusta de exigir pagamento apenas aos alunos que frequentam as aulas de LCP no sistema paralelo, após o horário escolar normal, exatamente aqueles que têm piores condições de aprendizagem, pois as aulas de Português têm lugar fora do horário escolar diário e em escolas muitas vezes afastadas daquela que frequentam.

Os alunos que têm as aulas de Português integradas no horário, embora não fazendo parte do currículo obrigatório, ficarão isentos da propina, numa tentativa rudimentar de subterfúgio, de parte da SECP e do CICL, destinada a esconder das entidades escolares dos países de acolhimento o facto de o EPE ter deixado de ter caráter gratuito, pois tal significa a perca de subsídios, uso gratuito das instalações escolares, etc.
 
Um estratagema vergonhoso e que não terá frutos positivos, pois em breve as entidades escolares locais, que tanto apoiam o sistema integrado como o paralelo, terão conhecimento do que se passa e exigirão explicações das entidades portuguesas.

É realmente lamentável toda esta política irresponsável de destruição, que terá como única consequência o encerramento de inúmeros cursos, por falta de alunos pagantes, e milhares de crianças e jovens luso-descendentes ou recém-chegados de Portugal, que ficarão privados das aulas de LCP, a menos que os pais decidam pagar a propina, que nem sequer garante um ensino de qualidade, mas apenas uma certificação inútil para a maioria dos alunos, restando ainda mencionar o largo número de professores de Português no estrangeiro que se verão condenados ao desemprego se não houver pais em número suficiente a pagar a propina.

A nossa Língua e a nossa Cultura, que deveriam ser bens inalienáveis, foram transformadas, pelo CICL e pela SECP em mercadoria a ser vendida visando fins lucrativos, tendo essa decisão partido das entidades a quem deveria caber a defesa, em todos os pontos, do Ensino Português no Estrangeiro.
 
Muito lamentavelmente, as referidas entidades optaram, por meio de uma inconcebível Portaria, em fazer do ensino da nossa língua e cultura um bem acessível apenas a quem o queira - ou possa - pagar.

Estamos certos de que o nosso ilustre poeta Luís de Camões, de cujo nome o CICL se apropriou, mas não honrou, coraria de vergonha e ficaria indignado se soubesse que o seu nome estava a ser usado por uma instituição que decidiu retirar aos cidadãos portugueses no estrangeiro um dos seus direitos mais prezados, as aulas de Língua e Cultura Portuguesas para os seus filhos, exigindo agora pagamento para manter vivo o Português no estrangeiro.

Correm turvas as águas deste rio
Os campos florescidos se secaram
Intratável se fez o vale, e frio.

Tem o tempo sua ordem já sabida;
O mundo, não, mas anda tão confuso
Que parece que dele Deus se esquece.

Casos, opiniões, natura e uso
Fazem que nos pareça desta vida
Que não há nela mais o que parece.

Luís Vaz de Camões (1524 - 1525? - 10/06/1580)

Nuremberga, Alemanha - 11/03/2013

Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares
(Secretária-Geral do SPCL)

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