26/05/2013

Comunicado do SPCL - O DESESPERO NOSSO DE CADA DIA (8 de Maio de 2013)


 


SINDICATO DOS PROFESSORES NAS COMUNIDADES LUSÍADAS

O DESESPERO NOSSO 
DE CADA DIA 


As desagradáveis experiências diárias dos professores de Ensino Português no Estrangeiro  

Os professores do Ensino Português no Estrangeiro (EPE) deixaram de ser professores e “embaixadores” – como muitas vezes foram denominados no passado - da Língua e Cultura Portuguesas, tendo passado à condição de vendedores, por comissão, da referida língua e cultura, vendedores pressionados pelo Camões, I. P., para conseguir o maior número possível de inscrições pagas para os seus cursos, sob pena de perderem a comissão de serviço que atualmente detêm.

Porque, na realidade, a verdade é só esta: caso o professor não consiga convencer, persuadir, influenciar encarregados de educação em número suficiente para pagar a “propina” dos seus filhos, terá o desemprego a olhá-lo de frente no fim do ano letivo.

Este é um dos efeitos perversos da aplicação da taxa de frequência, vulgo “propina”, para os cursos de Português no estrangeiro que, inevitavelmente, transforma os professores em desesperados vendedores de inscrições, por ser essa a única forma  de assegurarem o seu lugar de trabalho e a sua subsistência no estrangeiro.

Porém, verifica-se aqui uma contradição, que dia a dia se torna mais patente: embora os professores se esforcem por “vender”, muitos encarregados de educação recusam-se a “comprar”.

Uns, por um compreensível sentimento de revolta em relação ao ditame de um país que aceita as remessas de divisas que enviam, mas que nada dá em troca.

Outros, por considerarem extemporânea uma exigência de pagamento 6 meses antes do início do ano letivo.

E outros ainda, por dificuldades económicas, que o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas e o Instituto Camões se recusaram a reconhecer, pois não foi posto em prática o pagamento faseado da “propina”, que tinha sido acordado com os representantes sindicais na reunião de 23 de abril.  

Diariamente, os professores vêem-se  confrontados com pais revoltados, desiludidos, muitas vezes verbalmente agressivos, ofendidos por uma medida que consideram injusta e inaceitável.

E perante toda esta constelação extremamente negativa os professores desesperam, angustiados face à incerteza do seu futuro profissional e pessoal.

Desesperam, vendo pais a recusarem pagamento e alunos a abandonarem os cursos.

Desesperam, vendo alunos desmotivados, porque já sabem que no próximo ano não irão frequentar as aulas.

Desesperam, porque além de lecionar os alunos e preparar as aulas, se vêem confrontados com uma sobrecarga burocrática, inscrições a fazer, comprovativos de pagamento e de redução de pagamento a recolher e a enviar e prazos a cumprir.

E desesperam mais ainda, porque se vêem ameaçados pelo desemprego ou, na melhor das hipóteses, por forte redução de horário, se não conseguirem atingir o objetivo exigido, isto é, o número mínimo de alunos para garantir os cursos.

Número esse que, na melhor das hipóteses, não ultrapassará os 50% do atual total existente.

Na Alemanha, apenas cerca de 940 alunos dos 3.800 existentes pagaram a propina.

No Reino Unido, cerca de 1.000 dos 3.600 inscritos no ano anterior.

Mesmo ainda sem números concretos nos restantes países é fácil descortinar, apenas a uma semana do fim do prazo estipulado, qual será o trágico desenlace de todo este processo, pois menos de metade dos alunos existentes irá frequentar as aulas no próximo ano letivo, o que significa que cerca de 50% dos professores atualmente em exercício serão dispensados.

E quem se preocupa com este triste fim da estrutura do EPE?
Não, certamente, o Camões I. P.: menos alunos, menos professores, algum proveito económico.

Não, certamente, os coordenadores dos diferentes países, que terão menos alunos, menos professores de ensino básico e secundário a seu cargo, mas, além de manter o seu vencimento, terão mais tempo para se ocupar dos leitores, leitorados, e todo o tipo de eventos culturais a que o Camões I. P. dá tanta importância.

Preocupam-se, sim, os professores que encaram o desemprego, muitos deles depois de 20 e mais anos de EPE.

Preocupam-se os pais, cujos filhos deixarão de ter cursos de Português.

E deveria preocupar-se o Ex.mo Sr. Secretário de Estado das Comunidades, pois, dado o cargo que ocupa, seria sua obrigação servir os cidadãos portugueses no estrangeiro e não servir-se dos mesmos, retirando-lhes o ensino gratuito que, embora agora apelidado de “privilégio”, era na verdade um dever do Estado Português e um direito dos portugueses no estrangeiro.


Nuremberga, Alemanha

8 de maio de 2013

Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares
Secretária-Geral

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