10/12/2012

O grande embuste da propina no EPE (Dez. 2012)


O grande embuste da propina

Porque é que o senhor secretário de estado das comunidades (supostamente, o responsável governamental para defender as comunidades portuguesas) insiste, insiste e teima na obrigação da propina para o Ensino do Português no Estrangeiro (EPE)?

Será para defender este tipo de ensino?

Será para melhorar a qualidade do ensino?

Será para …?

Vejamos:

Ele quer instituir uma propina, um pagamento anual à volta de 120 euros, para, segundo ele, melhorar a qualidade do ensino, pois, com esta propina, vai ser possível certificar os conhecimentos!!!!

E para que vai servir esta propina? Pasme-se:

1- Para comprar os livros. Para comprar os livros!!? Hoje, os livros são comprados em Portugal ou em livrarias portuguesas no estrangeiro, locais de divulgação da cultura portuguesa e, mesmo com o lucro dessas livrarias, nunca ficam a esse preço! Além disso, muitos dos livros servem para mais de um ano. No caso dos livros de História são comprados no 5° ano e servem até ao 9°.

2- Para certificar os conhecimentos!!!? Inventou uma nova pedagogia: exames anuais para todos os alunos, pois, segundo ele, os pais anseiam saber anualmente o que o seu educando sabe; assim, a certificação passa por um exame anual para todos os alunos. Estranho que não tenha proposto o mesmo para Portugal; curiosamente, o ministro da educação de Portugal, também não fez essa proposta. Deve ser pedagogia especial para emigrantes!!!

3 – Os pais de todos os alunos, desde o primeiro ano incluído, vão pagar para ter esse certificado (na opinião do senhor secretário de estado, é o grande sonho dos portugueses). Sendo assim, os bons alunos que frequentarem os cursos de língua e cultura portuguesas, do 2° ano ao 12° ano, vão ter, se passarem sempre, 10 certificados!!! Vem agora o mais interessante: segundo o QuaREPE* (Quadro de Referência para o Ensino do Português no Estrangeiro) prevê-se um certificado para cada um dos seguintes níveis: A1, A2, B1, B2, C1*, portanto, 5 certificados. Assim sendo, ou os alunos chumbam ou só podem frequentar 5 anos!!!

Estão a achar complicado? Vejamos então:

O aluno entra no 2° ano e passa na certificação do fim de ano. Pagou 120 euros, passa e obtém o nível A1. Vai para o 3° ano e tenta a certificação em A2! 120 euros, passa e vai para o 4° ano! Vai a exame em B1, + 120 €, passa e vai para o 5° ano. Terá nesta altura 11/12 anos e vai começar a aprendizagem que o irá levar, 120 euros mais tarde, a obter uma certificação em B2, algo que em Portugal e em qualquer país europeu, um bom aluno obterá quando, estudando, atingir os 14/15 anos de idade. (Como se vê, este sistema aumenta e antecipa as capacidades dos nossos alunos!!!). Continuando: se passar, se o pai pagar os 120 €, o aluno que, sem o QuaREPE andaria no 6° ano (ano que frequenta na escola do país onde reside), vai candidatar-se à certificação em B2 e, se passar, vai poder entrar na Universidade, pois o nível C1 é o seguinte, precisamente antes do C2, que é só para universitários.

4- E o dinheiro que anualmente vai ser pago pelos nossos emigrantes, para pagar um sistema de ensino que, segundo a Constituição, devia ser gratuito, vai para onde?

Para os livros!?? Para a certificação, …!?? Acha que sim? Consta que vai para o Instituto Camões!!! Não vai servir nem para melhorar as condições de trabalho dos professores, nem para fotocópias, vai para o Camões. Sejamos claros: o dinheiro que os pais vão pagar para a propina, vai servir para financiar o Ensino do Português no Estrangeiro; não só roubam aos portugueses residentes no estrangeiro um direito (ao ensino gratuito para todos), como os consideram portugueses de segunda pois, se quiserem, num gesto de patriotismo, que os seus filhos continuem a ter acesso à língua e cultura do país que os obrigou a emigrar (continuar a gostar do país de origem e quererem que os filhos façam o mesmo), vão ter de pagar!!!

E, depois destas notícias, serve para defender a comunidade portuguesa? Quem? O secretário de estado das comunidades? Este secretário de estado das comunidades? E a comunidade portuguesa na diáspora vai deixar que ele a “defenda assim”??

Está na hora…
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NOTA explicativa:

* No âmbito do QuaREPE, foram definidas linhas de orientação curricular e escolheram-se materiais pedagógicos e didácticos que permitam construir e consolidar aprendizagens consideradas essenciais. Foi concebido um plano global, organizado por níveis de competência com caracterização de um perfil terminal geral e parcial, tendo em conta as diversas componentes (compreensão do oral, leitura, produção/interacção oral, produção/interacção escrita).

Níveis (que poderão ser divididos em sub-níveis) da escala global do QuaREPE:

A1 e A2 - utilizador elementar
B1 e B2 - utilizador independente
C1 e C2 - utilizador experiente (estes dois níveis exigem um avançado grau de maturidade intelectual, com bons conhecimentos de literatura, de cultura geral, etc., o que pressupõe uma faixa etária e um desenvolvimento psico-cognitivo já bastante adiantado; estes dois níveis implicam, assim, um elevado e complexo grau de proficiência linguística, de perfil universitário).

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