07/11/2012

Comunicado do SPCL sobre o Novo Regime Jurídico para o EPE (1 Nov. 2012)

SINDICATO  DOS  PROFESSORES  NAS  COMUNIDADES  LUSÍADAS 
                                                                         
Aos partidos políticos com assento na Assembleia
Aos órgãos de Comunicação Social

Ex.mas Senhoras Deputadas
Ex.mos Senhores Deputados
Ex.mas Senhoras
Ex.mos Senhores

Novo Regime Jurídico para o Ensino Português no Estrangeiro
Secretaria de Estado das Comunidades e CICL transformam os cursos de Língua e Cultura Portuguesa em Centros de Língua

Na verdade, se se concretizarem todas as disposições do novo diploma legal, publicado em DR a 30 de outubro, o funcionamento dos atuais cursos de Língua e Cultura Portuguesa funcionarão mais como os Centros de Língua que o CICL (antigo Instituto Camões) tutela, do que cursos de língua e cultura para crianças e jovens luso-descendentes. A começar por pagamento obrigatório, passando por uma avaliação desfasada da realidade escolar dos países de acolhimento e terminando por um sistema de certificação de caráter anti-pedagógico e absolutamente inadequado para os alunos até aos 6.° ano de escolaridade, que constituem mais de 60 % da população escolar do EPE. Os cursos que continuarem a funcionar depois da forte queda no número de alunos que a propina ou taxa de frequência originará, assumirão um perfil muito semelhante àquele dos cursos já existentes para alunos estrangeiros de idade adulta.

As afirmações do Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário,  para justificar a instituição da propina e de todas as vantagens que a mesma proporcionará, além de falaciosas, não convencem e caem pela base.

A avaliação e certificação dos alunos, assim como a existência de programas e formação de professores, sempre foram uma realidade nos 35 anos de EPE.
Até 2007, o MEC (Ministério da Educação e Cultura) sempre proporcionou a todos os professores de EPE formação regular, de caráter anual ou até bienal, formação esta de qualidade, adequada às necessidades dos docentes e totalmente gratuita.

Programas, sempre existiram e continuam a existir. Todos os anos letivos, em cada país, os professores se reuniam para discutir, comentar e rever a programação.
Os alunos sempre foram avaliados, constando a nota de português, na maioria dos casos, nas cadernetas escolares dos países de acolhimento.

A certificação sempre foi também uma realidade, sendo os certificados dos cursos de LCP reconhecidos por duas universidades na Alemanha e uma em Itália,e todos os alunos que terminavam a escolaridade ou regressavam a Portugal recebiam um certificado.

É realmente impossível conceber ou afirmar que um sistema de ensino pudesse existir durante 35 anos sem estes elementos básicos acima referidos.

Porém, desde 2009, com a tutela do CICL, passando pela SECP (Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas), nunca houve formação gratuita de professores, apenas os cursos online, remunerados.

Os professores com longas licenças por doença ou parentalidade deixaram de ser substituídos, ficando os alunos 6 e mais meses sem aulas.
Os grupos letivos de 15 alunos, que durante 35 anos tinham direito a 4 ou até 5 horas letivas por semana, passaram a ter 3 horas ou, em alguns casos, apenas 2.
Vários grupos que tinham aula de português duas vezes por semana, passaram a tê-la uma única vez, tendo vários alunos sido obrigados a abandonar as aulas por incompatibilidade de horários.

Em dezembro de 2011, foi abruptamente terminada a comissão de serviço a 49 professores, facto que deixou mais de 5.000 alunos sem aulas, e muitos deles não as voltaram a ter.

De 2009 a 2012 o número de professores, no EPE Europa, passou de mais de 600 para apenas 400, sem que tenha havido descida significativa no número de alunos.

Em resumo, em apenas três anos tem-se assistido a uma degradação acentuada da qualidade de ensino, a um estrangulamento progressivo do número de cursos e de professores. Professores sobrecarregados com quase 200 alunos de vários níveis diferentes e longas deslocações entre cursos, deslocações essas, cujos custos os docentes adiantam do seu bolso e que são repostas com atrasos que chegam a atingir 6 e 7 meses.

E é este ensino degradado, reduzido, maltratado, que os responsáveis agora pretendem sanar dos males que eles próprios causaram com a instauração de uma taxa obrigatória, que deixará fora do sistema grande número de alunos para, com a receita obtida da mesma, voltar, talvez, a repor tudo aquilo que retiraram, menos, claro, os alunos que ficarão sem aulas, se os encarregados de educação não pagarem a propina e os professores que perderão os seus postos de trabalho, devido à inevitável diminuição do número de alunos e consequente encerramento de cursos.
 
Nuremberga, Alemanha
1 de novembro de 2012

 Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares
 Secretária-Geral

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