14/11/2012

Manifesto do SPCL - Solidariedade com Movimentos de Protesto (14 Nov. 2012)



 
MANIFESTO
DO  SINDICATO  DOS  PROFESSORES
NAS  COMUNIDADES  LUSÍADAS
Contra a supressão de direitos sociais
Pelo trabalho digno
Pela qualidade de vida
Pela dignidade pessoal e profissional 

Hoje, dia 14 de novembro, deseja o Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas  – SPCL    declarar a sua mais profunda solidariedade a todos os movimentos de protesto, greve e reivindicação que vão ter lugar em Portugal, Espanha, Grécia, Suíça (Genebra), Chipre e Malta, contra a agressão de que está a ser alvo a população de vários destes países, que diariamente vêem retirados e reduzidos os seus direitos mais básicos, em nome de défices e dívidas pelos quais não são responsáveis e para a existência dos quais não contribuiram ativamente.
                           
Consideramos absolutamente inaceitável o  constante aumento da carga fiscal, maioritariamente à custa dos salários e pensões, atingindo injustamente as famílias de mais baixos rendimentos, assim como as medidas contra os trabalhadores do sector público, que afetam fortemente os seus direitos e que apenas contribuem para a degradação do Serviço Público.

Consideramos também inaceitável o ataque, cada vez mais diversificado e aprofundado, aos direitos sociais e laborais, assim como a destruição sistemática das funções sociais do Estado, especialmente nos campos da Saúde e Educação, que deveriam ser pilares essenciais em qualquer estado civilizado e democrático.

Consideramos ainda inaceitável, assim como uma irresponsabilidade imensurável, a marcada tendência para dar resposta a problemas com a repetição de soluções que não têm possibilidade de resultar e que, em vez de crescimento, trazem estagnação e depauperamento, e, em vez de equilíbrio, défice e dívida.

Não é através de desemprego, carestia e instabilidade crescente que se melhoram as finanças de um estado. Não é levando os seus cidadãos a emigrar, que um país atinge melhor situação económica.

É impossível através da fome, da pobreza, do desemprego em massa e da insegurança social atingir qualquer tipo de metas positivas.

É imprescindível travar a perigosíssima espiral do atentado aos direitos sociais que leva unicamente a uma degradação crescente das condições de vida.

Pelos nossos direitos, pelos nossos postos de trabalho, por salários dignos e pensões justas, pelo nosso futuro, a nossa luta, hoje, amanhã, sempre.

Nuremberga, Alemanha
14 de novembro de 2012


                                                                   P´la Direção do SPCL
                                                        Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares
                                                                      Secretária-Geral
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ENSINO PORTUGUÊS NO ESTRANGEIRO
Um sistema em crise e extinção

POR  UM  ENSINO  GRATUITO,  DE QUALIDADE,  COM  CONTINUIDADE  E FUTURO

O Ensino Português no Estrangeiro (EPE)  tem, desde o seu início há cerca de 35 anos, passado por fases difíceis, embora nenhuma delas se compare com a fase de estrangulamento progressivo e de pré-aniquilação na qual agora se encontra.

Considerado, por governos sucessivos, como demasiado dispendioso, tem sido vítima de vários cortes, todos eles com resultados desastrosos, seja para alunos, seja para professores.

Em 1998, cerca de 50 professores colocados na Alemanha ao abrigo de acordos bilaterais viram-se obrigados a optar entre manter os seus postos de trabalho junto da entidade alemã ou perca eventual dos direitos e salário de funcionário público português, tendo muitos deles, constrangidos pela situação, sido obrigados a abandonar os cursos que até aí lecionavam, deixando grande número de alunos sem aulas.

Em 2006, os salários dos docentes de EPE sofreram um redução de cerca de 35%, facto que levou muitos professores a regressar a Portugal.

Em 2009, depois de fortes protestos por parte do nosso Sindicato, obteve-se uma reduzida atualização salarial de cerca de 2.5 %, assim como direito ao subsídio de refeição, que no passado tinha sempre sido recusado aos professores de EPE.

Porém, esta aparente estabilidade pouco perdurou, pois com a passagem, em 2010, para a tutela do Instituto Camões, atual CICL, a situação dos professores e do ensino português no estrangeiro tem vindo a agravar-se constantemente, atingindo agora a fronteira do insustentável, visto os responsáveis do Camões, I. P., terem centralizado todas as suas medidas na redução do número de cursos  existentes e aumento de alunos por curso, tendo além disso diminuído fortemente as horas destinadas aos professores de apoio e ignorado o seu dever de proporcionar cursos de formação de caráter gratuito.

A partir de 2010/2011, tiveram lugar fortes reduções na rede de ensino, tendo sido eliminados mais de 150 horários. Por ordem do Camões, I. P., deixaram de ser efetuadas substituições de professores, medida esta que se tem prolongado até à atualidade. Assim, se um docente deixar de exercer funções, seja por doença prolongada, licença de parentalidade ou outras razões, os alunos ficam, pura e simplesmente, sem aulas.

Estas medidas economicistas culminaram em dezembro de 2011 com a cessação, após apenas 4 meses de funções, da comissão de serviço a 49 professores do EPE, condenando a maior parte deles ao desemprego e os restantes ao regresso às escolas de origem, tendo também sido anuladas as colocações do concurso de professores para o EPE realizado no mesmo ano.

De nada serviram os protestos de sindicatos, comissões de pais, deputados e conselheiros das comunidades. Mais de cinco mil alunos ficaram sem aulas, tendo uma pequena parcela dos mesmos sido integrada nos cursos de outros professores, sobrecarregando os mesmos e prejudicando a qualidade de ensino.

Como se tal não bastasse, em março de 2012 surge, emanada do CICL e da Secretaria de Estado das Comunidades, a obrigação de pagamento de uma taxa de inscrição, ou propina, para permitir acesso aos cursos de Língua e Cultura Portuguesa que sempre tinham sido de caráter gratuito.

Esta taxa de frequência, que o SPCL considera inaceitável, discriminatória e de caráter anti-constitucional, é  justificada pelas duas entidades acima mencionadas como necessária para subsidiar o funcionamento dos cursos, uma certificação dispensável para a maioria dos alunos e a formação de professores; isto é, propõem-se repor, a título de pagamento, tudo aquilo que o EPE tinha antes da passagem do MEC para o CICL.

Deixando de lado a questão de como é possível pedir aos encarregados de educação que contribuam economicamente para a formação de professores, visto que a responsabilidade desta última pertence, por lei, à entidade empregadora, põem-se as seguintes, e pertinentes, considerações:

1.   A obrigatoriedade de uma propina, que deveria já ser aplicada em 2012 mas que só entrará em vigor em 2013, é de caráter abertamente discriminatório, pois se aplica apenas aos alunos do ensino paralelo e não àqueles que frequentam o ensino integrado. Assim, na Espanha, onde predomina o ensino integrado, haverá poucas reduções. No Luxemburgo, onde cerca de 50% dos alunos frequentam esse tipo de ensino, haverá problemas, pois existem professores que lecionam nas duas vertentes.
Desta vez, os países mais atingidos serão a Alemanha e a Suíça, onde predomina o ensino paralelo, seguidos de perto pela França, Bélgica e Holanda, sendo que nestes dois últimos países, onde os cursos de Língua e Cultura Portuguesa são em número reduzido, o ensino tenderá a desaparecer.
2.   A referida taxa, a ser aplicada, contribuirá para a diminuição acentuada do atual número de alunos, com consequente redução de postos de trabalho de professores, que certamente superará a centena.
3.   Muitos alunos, mesmo que os pais aceitem pagar a taxa, ficarão sem aulas, se o grupo letivo que frequentam ficar muito abaixo do número mínimo de 15 alunos.
4.   É totalmente impraticável aquilo que o Sr. SECP já anunciou na imprensa, que os pais dos alunos teriam já de pagar a taxa de frequência em fins de Fevereiro, altura em que são feitas as novas inscrições. Tal procedimento é inexequível, visto que nessa altura é impossível saber quais os cursos que irão funcionar no ano letivo seguinte, assim como, da parte dos alunos, é impossível saber se os podem frequentar, visto que, obviamente, desconhecem como serão os horários nas escolas de origem em 2013/2014.
5.   Os professores de EPE constituem ainda um grupo abertamente desfavorecido no plano fiscal, pois, para efeitos de impostos, são considerados como residentes em Portugal, o que os impede de deduzir vários tipos de despesas feitas no estrangeiro, que é, na realidade, o espaço onde vivem e trabalham. Neste plano, há ainda a considerar a cada vez mais precária situação salarial dos professores na Suíça, vítimas de um câmbio progressivamente desfavorável, e com um vencimento já tão reduzido que quase não lhes permite fazer face às despesas quotidianas.

Conclusão -  O Ensino Português no Estrangeiro encontra-se em total decadência e degradação, com  professores, alunos e qualidade de ensino em situação extremamente precária e ameaçada de extinção. Não existem critérios definidos para a formação de grupos letivos, um professor tanto pode ter a seu cargo 80 alunos de todos os níveis de escolaridade, como esse número pode ficar perto de 200, todos eles a serem lecionados em parcas 22 horas letivas semanais.

A passagem da tutela do MEC para o CICL  apenas trouxe desvantagens, pois além das várias medidas economicistas levadas a cabo por este último, os professores  de EPE são preteridos pelo MEC, que ignora a sua existência no respeitante a concursos em Portugal e ao reconhecimento da avaliação feita no estrangeiro, assim como são preteridos pelo Camões, I. P., relativamente aos leitores, a quem são pagos subsídios e viagens do agregado familiar que, embora se encontrem previstas na legislação em vigor para os dois contingentes, são abertamente recusados aos professores. 

                                    
Apesar de todas estas circunstâncias, tão fortemente adversas e que o SPCL se vê na obrigação de apontar e denunciar, o nosso Sindicato persiste, e persistirá no futuro, na luta contra a precariedade, instabilidade e falta de qualidade de ensino no EPE, contra a extinção do mesmo, por um ensino de qualidade, com continuidade e pedagogicamente adequado para os alunos e por estabilidade laboral, condições de trabalho dignas e salários adequados para os professores.

Nuremberga, Alemanha  
14 de novembro de 2012

                                                                       P´la Direção do SPCL

                                                           Maria Teresa Nóbrega Duarte Soares
                                                                          Secretária-Geral

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