22/05/2012

Carta de Protesto à Cobrança de Propina Anual no EPE (Portugueses em França).Maio 2012 (Lusojornal)


http://www.lusojornal.com/unefr.pdf

 
 
Carta aberta de protesto à cobrança de qualquer propina anual do curso de português
Exmo. Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, Dr. Paulo Portas
Exmo. Senhor Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Dr. José Cesário
Exmo. Senhor Deputado da Assembleia da República, Sr. Carlos Gonçalves
Exmo. Senhor Cônsul Geral de Portugal em Paris, Dr. Pedro Lourtie
Exmo. Senhor Cônsul Honorário de Portugal em Tours
Exma. Senhora Presidente do Instituto de Camões, Professora Dra. Ana Paula Laborinho
Exma. Senhora Coordenadora do Ensino Português em França, Dra. Adelaide Cristóvão

Os encarregados de educação dos alunos que frequentam os cursos de língua portuguesa nas escolas “Mignonne” Joué-les Tours, “Ferdinand Buisson” Tours, “Deux-Bourgs”, Cheillé,  “JulesFerry”  Blois,  “Saint Sulpice” Saint Sulpice, “Emile Martin”  Romorantin,  “Puits  Berteau” Vierzon, “Paul Doumer” St Jean de la Ruelle, “Jean Zay” St Jean de Braye, “Georges Chardon” Orléans, “Du Morvant” Châteauneuf-sur-Loire, vêm por este meio manifestar publicamente o seu mais intenso descontentamento e oposição à proposição de cobrança de uma propina anual para os alunos inscritos no curso de português, a partir do próximo ano letivo.

A alínea a) do Artigo 74° da Constituição da República Portuguesa prevê o ensino gratuito e as Alíneas i) e j) do referido artigo defendem o ensino da Língua Portuguesa, o acesso à Cultura Portuguesa e o apoio adequado para efetivação  do  direito  ao  ensino  de qualidade  ao  serviço  dos  filhos  de emigrantes. Assim sendo, os encarregados  de  educação  não  compreendem porque é que têm de pagar para que os filhos aprendam a língua deles, enquanto outros alunos, na maioria estrangeiros   (cursos   ELVE),   têm acesso à aprendizagem do português gratuitamente. Tal procedimento é extremamente discriminatório e injusto, pelo que recusam o pagamento de qualquer montante. 

Os cursos de português existem nestas escolas há vários anos com uma média de 18/25 alunos por curso e por ano, integram o sistema educativo francês e são da responsabilidade dos Diretores das escolas e das Inspeções Académicas. Além disso, apesar de os cursos serem facultativos e funcionando em horários diferidos, os nossos filhos são assíduos e motivados. 

Os  cursos de  Língua  Portuguesa a funcionar nas escolas acima mencionadas contam com o apoio das respetivas  Câmaras  Municipais,  com  o apoio dos Diretores das escolas e das Inspeções Académicas. Este apoio manifesta-se  através  do fornecimento  de  material  escolar (lápis, canetas, cadernos, cola…), da utilização da fotocopiadora e acesso gratuito  a  uma  sala  de  aula  e,  na maioria das escolas, disponibilização de meios audiovisuais, bem como o aquecimento e limpeza das salas. 

Os  encarregados  de  educação  não compreendem  o  montante  da  propina: as únicas despesas anuais dos encarregados de educação são de 18 euros que correspondem à compra de um manual escolar e do Portfólio, ficando muito aquém dos valores solicitados pelo Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesa, Dr. José Cesário. 

É de salientar que os alunos que frequentam o CP nem sequer adquirem o manual escolar nem o Portfólio não tendo por isso, os encarregados de educação destes alunos nenhuma despesa. Em relação à certificação dos alunos informamos o Sr. Secretário de Estado que já existe. No final de CM2 os nossos filhos recebe, uma  “Attestation”/Certificado onde consta o nível obtido (A1.1- A1.2- A1) competências  definidas  no  Quadro  Europeu Comum de Referência para as Línguas. Será que este certificado não tem valor nenhum? O resultado da avaliação de CM2 também é registado na ficha de avaliação que acompanha o processo de inscrição em 6ème – “Livret scolaire de l’élève “(palier 2 CM2). Os encarregados de educação das escolas acima mencionadas estão saturados de ter de inscrever os alunos várias vezes no curso de português: inquéritos  da  Inspeção  Académica, Ficha de Confirmação, Pré-Inscrição on-line… Um absurdo que ninguém compreende. 

Também não compreendem porque razão foram fechados, no ano passado, cursos em duas escolas da Academia, com a desculpa de poucos alunos inscritos (10-13 alunos) e este ano estão a funcionar em certas escolas cursos com 5, 7 e 8 alunos como se  pode  verificar  no  site  da Coordenação do Ensino. Haverá alunos mais importantes do que outros, haverá encarregados de educação e escolas mais importantes de que outros? Que desprezo pela província onde o número de alunos é constante, onde certos encarregados de educação percorrem, por vezes 50 km para que os  filhos  possam  frequentar  o curso de português.

Alguns dos encarregados de educação, que exercem funções nas escolas francesas, professores e Diretores de escola, consideram que este procedimento é ilegal, que desvaloriza o trabalho das Inspeções Académicas e não respeita as regras de funcionamento das escolas francesas pelo que nunca  poderá  ser  aprovado.  Estes mesmos encarregados de educação recusam  a  pré-inscrição  pois  estão contra o facto de introduzir dados pessoais na internet. 

Pelos motivos referidos, porque o ensino em Portugal e em França é gratuito, porque estes alunos são, acima de tudo, Portugueses e orgulhosos de o ser, porque os nossos filhos adoram Portugal, porque é através deles que se ouve falar na Língua e Cultura Portuguesa nas  escolas  francesas, porque os nossos professores praticam um ensino de qualidade e representam  Portugal  com  dignidade  e profissionalismo, os encarregados de educação exigem que sejam tratados como cidadãos da República Portuguesa para que não se afastem da Língua e da Cultura Portuguesa. Os cursos de português existem, gratuitamente, há décadas em França.

Muitos encarregados  de  educação presentes tiveram aulas de português nas escolas que frequentam hoje o seus filhos. Aprender a língua portuguesa é um dos direitos das comunidades portuguesas que vivem no estrangeiro e, em particular, das crianças em idade escolar. Sr. Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas não destrua aquilo que é um dos nossos prestígios: a Língua Portuguesa. 

Preservá-la e divulgá-la é criar laços mais fortes com o nosso país e as nossas origens. Sr. Secretário de Estado, nós os Emigrantes, não somos ricos e já damos a nossa contribuição a Portugal quando vamos de férias, quando enviamos as nossas escassas poupanças. Retirar-nos este direito é afastar-nos de Portugal, é esquecer-nos.

Encarregados de Educação da Academia Orléans-Tours – FRANÇA (MAIO 2012)

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