O
Valor Económico da Língua Portuguesa
O ISCTE desenvolveu um estudo em que concluiu que a língua portuguesa tem
um valor potencial de 17% do PIB nacional, sobretudo observando o cálculo da
média ponderada do peso da língua em atividades económicas como a comunicação
social, as telecomunicações ou o ensino.
Estudo encomendado pelo Instituto Camões
As indústrias e
os serviços em que a Língua Portuguesa é um elemento chave representam 17% do
Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal, segundo os dados preliminares do
estudo O Valor Económico da Língua, encomendado pelo Instituto
Camões (IC) em Setembro de 2007, e desenvolvido desde então por uma equipa de
investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa
(ISCTE).
Língua Portuguesa
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A revelação foi
feita a 13 de Novembro pelo professor José Paulo Esperança, membro da equipa,
ao falar na 6ª Conferência anual da Federação Europeia dos Institutos Nacionais
de Língua (EFNIL), em Lisboa, numa intervenção em que começou por focar os
aspectos conceptuais e metodológicos destinados a proceder à avaliação de uma
língua nas suas diversas vertentes, económicas e outras, abordando o caso do
Português.
Os
investigadores portugueses, indicou, tiveram em conta estudos efectuados para
Espanha para calcular o valor da língua em percentagem do PIB e o Valor
Acrescentado Bruto (VAB) de produtos e actividades imputável à língua. Outros
estudos, efectuados para o Inglês, proporcionaram informação sobre a forma como
o crescimento da língua afecta o crescimento da economia ou como são
valorizadas as competências linguísticas no mercado de trabalho.
Destaque foi
dado por José Paulo Esperança às questões ligadas ao «efeito de rede» na
língua. O investigador universitário defendeu que o crescente interesse que tem
havido um pouco por todo o globo pelo Português resulta do «valor de rede» que
o idioma tem, ao ser a «quarta ou a quinta língua mundial».
«As pessoas em
geral, quando investem no estudo de uma língua têm de ter várias preocupações -
uma delas é a preocupação de rede. É um fenómeno muito parecido com o das
telecomunicações, em que também gostamos de utilizar o serviço do operador com
maior peso. Se houver diferenças de preços, temos toda a vantagem em estar na
rede mais numerosa, porque temos mais pessoas com quem podemos falar», explicou
o investigador do ISCTE ao suplemento do IC.
É devido a esse
«efeito de rede» que «tantos não falantes de Português estão a aprender o idioma»,
nomeadamente nos países vizinhos dos de Língua Portuguesa (LP), como Espanha e
vários Estados da América Latina - com relevo para a Argentina e Uruguai (onde
é idioma obrigatório nas escolas) e para a Venezuela -, e de África.
O estudo
conduzido pelo ISCTE, refere o investigador, vai procurar saber, com base num
questionário que já foi dirigido a quem está a estudar a LP na vasta rede de
instituições com que o IC está relacionado, quais os benefícios que o Português
traz aos seus utilizadores noutros países.
Intitulada Uma
Abordagem Ecléctica do Valor da Língua: O Uso Global do Português, a
palestra de José Paulo Esperança na Conferência da EFNIL focou também «o
impacto que a língua tem em termos de comércio externo, de investimento directo
estrangeiro (IDE)» e de outros de factores do mesmo tipo.
Verifica-se,
diz, «que as trocas comerciais e os fluxos de investimento estrangeiro entre
países que têm uma língua comum são um pouco maiores. E portanto, nesse aspecto
[a língua] também tem alguma influência». José Paulo Esperança admite que o
Inglês é a língua global dos negócios, mas responde afirmativamente à questão
de saber se há mais trocas entre países que dominam a mesma língua.
Essa
importância da língua ganha mesmo uma dimensão especial «nas chamadas indústrias
culturais, que são aquelas que utilizam mais e tiram mais partido da língua,
como por exemplo, a literatura, a música, o teatro, a televisão, etc.»,
sustentou o investigador, que sublinhou o efeito de retorno dessa influência.
«As actividades culturais, as actividades linguísticas são importantes do ponto
de vista do reforço que fazem a essas trocas comerciais», diz.
Um segundo
aspecto da avaliação do valor da língua é a do seu peso no PIB. O estudo do
ISCTE, segundo José Paulo Esperança, seguiu a metodologia utilizada em Espanha
pelo Instituto Cervantes. «É uma metodologia relativamente simples que consiste
em identificar o peso da língua em cada actividade económica».
«Nos serviços,
por exemplo, o peso da língua é maior. Nos serviços de educação é mais
importante. No teatro, no cinema é mais importante do que na agricultura e na
indústria, onde, apesar de tudo, ainda existe um pequeno peso em termos mais
residuais. No essencial o que foi feito foi reproduzir esse modelo para
Portugal, e procurar a partir daí extrair um valor da língua em percentagem do
PIB».
Foi na
aplicação desse modelo que a equipa do ISCTE chegou a um peso da língua de 17%
do PIB português. Este valor é superior ao espanhol (15%), em resultado da
maior terceirização da economia portuguesa em relação à espanhola. Os sectores
primário (agricultura, matérias primas) e secundário (indústria), em que a
língua é menos importante, pesam mais na economia espanhola.
Um terceiro
aspecto da avaliação em curso pelo ISCTE diz respeito às «mais-valias» da
língua em termos de notoriedade de personalidades, marcas e empresas
portuguesas, resultantes das respostas a um questionário.
Registam-se
aqui «aspectos curiosos». Entre eles, «o facto de algumas personalidades - como
por exemplo José Saramago ou até cantores, artistas que
trabalham na língua - terem um peso em termos relativos muito interessante face
a outras personalidades obviamente conhecidas para quem a língua não é tão
importante, como jogadores de futebol... Temos alguns resultados curiosos sobre
essa matéria que serão analisados», conclui o docente do ISCTE.
Número 132 · 19 de Novembro
de 2008 · Suplemento do JL n.º 995, ano XXVIII
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