22/05/2012

Deputados dão luz verde ao fim do EPE - SPCL (20 Maio 2012)

O VOTO DA INCONSCIÊNCIA - 
DEPUTADOS DÃO LUZ VERDE AO FIM DO EPE
SINDICATO DOS PROFESSORES NAS COMUNIDADES LUSÍADAS - SPCL

Na passada sexta-feira, 18 de maio, na Assembleia da República, o CDS, PSD e PS votaram contra o Projeto de Lei apresentado pelo PCP e Bloco de Esquerda, que visava a continuação do Ensino Português no Estrangeiro (= EPE) a título gratuito, revogando a propina de 120 euros anuais imposta a partir do próximo ano letivo, assim como a instauração de medidas para garantir um ensino de qualidade e com continuidade.

Com aberta indiferença pelo facto de a referida propina representar o fim do ensino de Língua e Cultura Portuguesas para muitos filhos de emigrantes, dado muitos deles terem optado por não fazer inscrição, seja por uma questão de princípio, seja por dificuldade económica, como se constata pela redução de mais de 9.000 alunos relativamente ao ano letivo anterior, os senhores deputados, com indiferença, arrogância e manifesta inconsciência, condenaram, sem reflexão nem pesar, quase 10.000 crianças e jovens luso-descendentes a ficarem privados das aulas da sua língua e cultura de origem, assim como, indiretamente, enviaram para o desemprego cerca de 90 professores, pois a primeira consequência do número reduzido de inscrições será, inevitavelmente, a redução dos horários existentes.

Tal atitude é incompreensível, pois os argumentos apresentados pela Secretaria de Estado das Comunidades e CICL, antigo Instituto Camões, entidades que detêm a tutela deste ensino desde julho 2009, baseiam-se unicamente em factores económicos, dado que o EPE, citando a Presidente do CICL, "não dá rendimento".

Já em dezembro passado foram despedidos, depois de apenas 4 meses de aulas, 49 professores, por alegados problemas orçamentais. Mais de 5.000 alunos ficaram sem aulas. Agora esse número duplicará, pois serão cerca de 10.000 os alunos excluídos do sistema devido à recusa do pagamento da propina, que foi imposta unilateralmente, sem consulta prévia de comissões de pais ou quaisquer outras entidades atingidas agora pelo processo.

A Petição dos portugueses na Suíça, com quase 5.000 assinantes, que esteve na origem do debate e projeto de voto apresentado na AR, demonstra bem o interesse da comunidade pela continuação de um ensino gratuito e de qualidade, como a Constituição consagra.

Muito lamentavelmente, com a conjuntura de funcionários tecnocratas, falsas inevitabilidades e economicismo, aliada a uma orientação política que mais tende a afastar os portugueses de Portugal do que a aproximar, assiste-se ao estrangulamento progressivo de um sistema de ensino que só poderia trazer vantagens ao nosso país, nomeadamente no plano económico, pois os milhões de portugueses no estrangeiro perderão a vontade de investir numa pátria que os trata de modo ofensivo e desrespeita os seus direitos.

Poupar não deveria ser sinónimo de destruir. Uma crise não deveria significar negação da nossa identidade nacional, e muito menos do bem precioso e inalienável constituído pela língua e cultura portuguesas, tão prezadas e acarinhadas pelos portugueses fora de Portugal, mas ao que parece, pelo sucedido na AR, só por esses, pois da parte dos políticos responsáveis a mensagem é clara. "Se querem aulas de português, paguem-nas!".

É discutível se somos ou não um país pobre. Mas somos, sem dúvida, um pobre país, pois a nossa língua, cultura, orgulho e identidade entraram agora na lista dos bens a vender e a comprar, para obtenção de rendimentos.

Língua Portuguesa, vende-se.

Nuremberga, Alemanha

20 de maio de 2012

Maria Teresa Duarte Soares
Professora do EPE e Secretária-Geral do Sindicato dos Professores nas Comunidades Lusíadas

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