Agir
na defesa do Ensino da Língua Portuguesa
Acompanho desde o primeiro momento a
evolução do ensino da Língua Portuguesa para os filhos dos emigrantes. Tive a honra
de fazer parte do grupo de representantes da comunidade que dialogou com o
Estado a contratação do primeiro professor para vir leccionar na Suíça. A
partir daí, foi o arranque das comissões de pais e a chegada de novos
professores. Nas últimas três décadas a comunidade continuou a sua escalada, a
população jovem é dez vezes superior e o ensino do Português progrediu
consoante as necessidades. Até hoje, o Estado tem cumprido a missão
constitucional de assegurar aos filhos dos emigrantes o ensino da Língua e
Cultura Portuguesa. Faz aquilo que é sua obrigação!
Agora, com os despedimentos de dezenas
de professores e os encerramentos de aulas, com a agravante de ter ocorrido a
meio do ano lectivo, as regras não foram só alteradas, mais do que isso,
acabaram por provocar um frontal acto de agressão contra a Língua Portuguesa, um
manifesto acto de violência com a capa da contenção orçamental. Coisa difícil
de aceitar, quando se sabe serem outras as intenções: a estratégia da entidade
coordenadora e executora das políticas de língua, ensino e cultura, isto é, o
Instituto Camões, é de acabar com o EPE. Para que não nos digam que estamos em maré
de inventar, recordamos as palavras da presidente, Ana Paula Laborinho, no acto
de posse: “O ensino da língua materna
pode acabar em alguns países porque o objectivo é a sua integração nos sistemas
do ensino no estrangeiro.” Mais claro não se pode ser.
Ninguém pode prever o que nos aguarda
no fim de uma penosa caminhada, mas não somos obrigados a aceitar a fatal
resignação, encolhendo os ombros, lançando lamentos. Contra semelhante atitude
de um Governo pouco animado nas questões da língua e cultura materna, como em outras
áreas de importância vital da vida dos cidadãos, ficamos autorizados a reagir,
a dizer basta, ficar parado é deixar tudo morrer!
Sabemos que por aí andam uns anjos
imaculados, os mesmos trapaceiros de sempre, com os tradicionais cânticos de
adormecimento, mas não vamos ligar a isso, deixemo-los cantar nas nuvens. Temos de agir, “é preciso acordar a malta”,
o recém-nascido Movimento Cívico em Defesa do EPE (= Ensino Português no
Estrangeiro) na Suíça, pode quebrar o enguiço. Os pais, os professores, as associações,
todos os falantes de Português, podem e devem unir esforços e se meter ao
trabalho, este movimento é de todos. Os professores devem regressar às escolas,
o ensino do Português como língua materna deve ser garantido aos nossos filhos
e netos, as coordenações devem ter condições para funcionar, estando à sua
frente pessoas qualificadas e educadas e o diálogo sobre o futuro do EPE na
Suíça, deve ser reposto. O EPE não é uma coutada da Coordenadora de serviço na
Embaixada. Também não deve ser visto como produto de mercado que se pretende
impingir às comunidades por vendedores da banha da cobra, vindos de Lisboa à
conta do erário público, como aconteceu recentemente.
Face ao gravíssimo estado de coisas
que vão acontecendo na Suíça com o ensino da nossa língua materna, só nos resta
o caminho do diálogo e da acção.
Aderir, divulgar e participar em
movimentos de defesa do ensino do Português na Suíça é um dever cívico -
esperamos ainda ir a tempo.
(Janeiro de 2012)
Conselheiro das Comunidades
Portuguesas na Suíça*
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