07/03/2012

Defesa do Ensino da Língua Portuguesa (Jan. 2012).M. Beja


Agir na defesa do Ensino da Língua Portuguesa
Acompanho desde o primeiro momento a evolução do ensino da Língua Portuguesa para os filhos dos emigrantes. Tive a honra de fazer parte do grupo de representantes da comunidade que dialogou com o Estado a contratação do primeiro professor para vir leccionar na Suíça. A partir daí, foi o arranque das comissões de pais e a chegada de novos professores. Nas últimas três décadas a comunidade continuou a sua escalada, a população jovem é dez vezes superior e o ensino do Português progrediu consoante as necessidades. Até hoje, o Estado tem cumprido a missão constitucional de assegurar aos filhos dos emigrantes o ensino da Língua e Cultura Portuguesa. Faz aquilo que é sua obrigação!
Agora, com os despedimentos de dezenas de professores e os encerramentos de aulas, com a agravante de ter ocorrido a meio do ano lectivo, as regras não foram só alteradas, mais do que isso, acabaram por provocar um frontal acto de agressão contra a Língua Portuguesa, um manifesto acto de violência com a capa da contenção orçamental. Coisa difícil de aceitar, quando se sabe serem outras as intenções: a estratégia da entidade coordenadora e executora das políticas de língua, ensino e cultura, isto é, o Instituto Camões, é de acabar com o EPE. Para que não nos digam que estamos em maré de inventar, recordamos as palavras da presidente, Ana Paula Laborinho, no acto de posse: “O ensino da língua materna pode acabar em alguns países porque o objectivo é a sua integração nos sistemas do ensino no estrangeiro.” Mais claro não se pode ser.
Ninguém pode prever o que nos aguarda no fim de uma penosa caminhada, mas não somos obrigados a aceitar a fatal resignação, encolhendo os ombros, lançando lamentos. Contra semelhante atitude de um Governo pouco animado nas questões da língua e cultura materna, como em outras áreas de importância vital da vida dos cidadãos, ficamos autorizados a reagir, a dizer basta, ficar parado é deixar tudo morrer!
Sabemos que por aí andam uns anjos imaculados, os mesmos trapaceiros de sempre, com os tradicionais cânticos de adormecimento, mas não vamos ligar a isso, deixemo-los cantar nas nuvens. Temos de agir, “é preciso acordar a malta”, o recém-nascido Movimento Cívico em Defesa do EPE (= Ensino Português no Estrangeiro) na Suíça, pode quebrar o enguiço. Os pais, os professores, as associações, todos os falantes de Português, podem e devem unir esforços e se meter ao trabalho, este movimento é de todos. Os professores devem regressar às escolas, o ensino do Português como língua materna deve ser garantido aos nossos filhos e netos, as coordenações devem ter condições para funcionar, estando à sua frente pessoas qualificadas e educadas e o diálogo sobre o futuro do EPE na Suíça, deve ser reposto. O EPE não é uma coutada da Coordenadora de serviço na Embaixada. Também não deve ser visto como produto de mercado que se pretende impingir às comunidades por vendedores da banha da cobra, vindos de Lisboa à conta do erário público, como aconteceu recentemente.
Dizem que o Governo não cede, como se isto fosse uma birra de meninos mimados. Não é assim: o Governo deve cumprir com as suas obrigações constitucionais, apenas isto.
Face ao gravíssimo estado de coisas que vão acontecendo na Suíça com o ensino da nossa língua materna, só nos resta o caminho do diálogo e da acção.
Aderir, divulgar e participar em movimentos de defesa do ensino do Português na Suíça é um dever cívico - esperamos ainda ir a tempo.

                                   (Janeiro de 2012)
Manuel Beja
Conselheiro das Comunidades Portuguesas na Suíça*

*O Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) é o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro.

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