04/03/2012

Mito da Integração e Outros (13 Out. 2011)


O MITO DA INTEGRAÇÃO E OUTROS

Outubro 13, 2011                  

Com a mudança de governo e as inevitáveis mudanças dos responsáveis por vários cargos, surgem as também inevitáveis alusões ao sistema de Ensino Português no Estrangeiro e às possíveis soluções para melhoria do mesmo.
Deixando de parte o facto, inegável, de que o EPE desde há muitos anos deixou de ter melhorias e agora se encontra em patente degradação, resultante da nova rede de ensino, orientada unicamente pelos princípios economicistas do Instituto Camões, é legítimo fazer a pergunta sobre o que se entende por “integração”, termo que tinha deixado de ser utilizado e que agora renasce como um tipo de remédio santo para sanar os males – e muitos são eles – que afligem o EPE.
Integração de quê e para quê? E para quem? Com que objetivos? Até hoje, nunca houve respostas concretas a estas perguntas.
Integração é realmente uma palavra bonita, de caráter positivo e de cariz político correto, por isso é atirada para o ar e apregoada como solução para situações que aqueles que indiscriminadamente a utilizam nunca se deram ao trabalho de conhecer.
Se por “integração” se referem à criação de cursos de Língua Portuguesa, como língua estrangeira, nas escolas dos países de acolhimento, é útil esclarecer que, e felizmente, grande parte dos alunos dos atuais cursos de Língua e Cultura Portuguesas domina, de novo felizmente, a sua língua de origem de modo muito razoável, não necessitando por isso de a aprender como língua estrangeira, o que seria aliás extremamente desmotivante, pois como falantes regulares da língua teriam de “voltar atrás”e começar pelas noções básicas, pois que, criando-se cursos de Português como língua estrangeira, teriam estes de começar pelo nível de iniciação.
É também necessário levar em conta que a tão apregoada “integração” não se encontra livre de propósitos economicistas, pois a existência do Português como disciplina no currículo escolar de um ou vários países seria um óptimo pretexto para encerrar cursos já existentes a cargo do governo português, passando a responsabilidade económica para as entidades estrangeiras, o que, convenhamos, iria ao encontro dos desejos de vários elementos políticos, dado que seria uma maneira de conseguir fugir àquele incómodo ditame da constituição portuguesa, que determina o direito a cursos de língua e cultura para luso-descendentes, pertencendo o encargo ao governo português.
Será importante lembrar, relativo a “integração” o que já sucedeu em França, no fim dos anos oitenta, com a abertura, por duas escolas secundárias em Paris, de cursos de Português como língua estrangeira.
Tal procedimento foi imediatamente usado pelos responsáveis em Portugal para encerrar grande número de cursos de 2° e 3° ciclo, com o pretexto que os alunos de nacionalidade portuguesa já poderiam aprender a sua língua com o estatuto de língua estrangeira no sistema francês, o que obrigou vários pais a recorrer ao ensino associativo, pois desejavam que os seus filhos fizessem progressos e não retrocessos na aprendizagem.
Os referidos cursos, de tão vistosa”integração”, há muito que deixaram de existir, por falta de interesse dos alunos franceses em aprender português.
Há também quem apregoe a “integração” como alternativa preferível aos cursos que funcionam na parte da tarde, depois do horário escolar normal, e em que alunos oriundos de várias localidades e várias escolas se juntam numa escola central para assistir às aulas de português.
Também aí, infelizmente, é obrigatório esclarecer que o “remédio integração” não resulta, dado que a comunidade portuguesa se encontra muito dispersa, havendo muitas vezes em cada escola apenas um ou dois alunos portugueses, o que impossibilita lecionar os mesmos nas escolas que frequentam e muito menos integrar as aulas de português no horário normal.
Embora o ensino paralelo não seja uma solução ideal é, devido às condicionantes existentes, o único modo de muitos jovens e crianças filhos de portugueses poderem adquirir e melhorar os conhecimentos da sua língua e cultura de origem.
Haveria, realmente, uma possibilidade de integração – desta vez sem aspas – das aulas de português no horário escolar normal dos alunos. Bastaria que, numa escola em que houvesse, um mínimo de 7 ou 8 alunos portugueses, se pudesse formar um grupo letivo com direito a algumas horas de aula por semana.
Tal procedimento, que traria grandes vantagens para os alunos e também para os pais, pois evitaria tempo perdido em deslocações a outra escola, tem possibilidades praticamente nulas de se tornar realidade, pois o número mínimo de alunos para formar um grupo letivo tem subido constantemente ao longo dos anos, de 10 para 15 e, atualmente, segundo as diretrizes do IC, bastam 3 horas para lecionar 18 ou 20 alunos de todos os níveis.
Tal significa que uma integração no horário, que traria benefícios inestimáveis ao alunos, falhou, falha e continuará a falhar por um único motivo: o aumento de custos que implica.
Realmente, é muito mais fácil integrar o Português no currículo e deixar que sejam outros a arcar com as despesas, e mais fácil ainda, como preconizado por um político responsável pelas comunidades, aproximar mais o sistema de ensino na Europa ao de fora da Europa.
Claro: no sistema fora da Europa, (isto é, Canadá, Estados Unidos, Austrália, etc.), o ensino é pago pelos encarregados de educação, sem sequer um subsídio do governo português e sem qualquer tipo de certificação reconhecida. Sistema muito desejável, devido aos custos baixos ou nulos.
Há quem diga que Portugal é um país pobre. Talvez seja. Mas o que é, sem dúvida, é um pobre país, com políticos que não prezam, não respeitam e não dão valor à sua própria língua e cultura além-fronteiras.

                                                                                               Nuremberga, Alemanha
                                                                              23 de Julho de 2011
Maria Teresa Duarte Soares
(Professora de LCP e Secretária-Geral do
Sindicato dos Professores nas Comunidades
Portuguesas - SPCL)
                                                                                                                     Blog da Emigração:  http://jdei.wordpress.com/

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